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Peça baseada em Mia Couto e Agualusa passa por Évora e mais 9 cidades portuguesas

 O Cineteatro Louletano (Loulé) acolhe no sábado a estreia em Portugal da peça “Chovem Amores na Rua do Matador”, baseada num conto de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, que o autor moçambicano adaptou para teatro, disse o encenador.

No âmbito do festival Med, Loulé será a primeira de 10 cidades portuguesas a acolher a peça, que faz a adaptação para teatro de um “texto do autor Moçambicano Mia Couto e do autor angolano José Eduardo Agualusa”, que “está inserido numa antologia de contos chamada ‘O terrorista elegante’”, contextualizou o encenador, Vítor Gonçalves, à agência Lusa.

“O nosso grupo andava já há bastante tempo a fazer um trabalho de Mia Couto. Em determinada altura, encontrámos este texto e pareceu-nos interessante, falámos com o Mia e ele disponibilizou-se para uma coisa que foi muito gratificante, que foi trabalhar connosco no texto de forma a poder transformá-lo de um conto para um texto de teatro”, afirmou Vítor Gonçalves.

O encenador da peça, que subirá ao palco da principal sala de espetáculos de Loulé a partir das 17:00, recordou que o espetáculo estreou-se em Maputo, “no final do ano passado”, e “foi muito bem recebido pelo público” em Moçambique, onde foi “feito um vídeo desse espetáculo” que acabaria por ser “enviado para vários locais”.

“Felizmente em Portugal surgiu um grande interesse por este trabalho – assim como no Brasil, Cabo Verde e São Tomé – e uma série de municípios e companhias de teatro contactaram-nos para programarmos uma digressão, que ficou acordada para o mês de julho de 2022, e Loulé é justamente o primeiro município a receber o trabalho, aqui no Cineteatro Louletano”, explicou.

O espetáculo tem como “entidade promotora a Fundação Fernando leite Couto, juntamente com a Universidade Eduardo Mondlane”, e aborda “uma questão que é fundamental ou pelo menos bastante premente no Moçambique contemporâneo”, país que tem “uma demografia galopante”, onde “mais de metade da população tem menos de 25 anos”, e que está “dividido em muitos aspetos culturais entre os hábitos urbanos e os hábitos rurais”.

“Se isso é verdade para a maior parte de países, e se é uma realidade também em Portugal, Moçambique é um país quase 10 vezes maior do que Portugal e com uma grande extensão de campo. Existe um conjunto de práticas sociais, domésticas, que determinam tradicionalmente as relações entre os homens e as mulheres e o que acontece é que existe uma geração, que é a maioria da população, que cada vez mais, sobretudo no caso das mulheres, questionam esse tipo de relação, obrigação e tradição instalada”, referiu.

Vítor Gonçalves sublinhou que “Mia é um autor que sempre soube dar muito bem voz às mulheres, mais do que aos homens” e considerou que, “quando ele e Agualusa pegaram neste tema”, acabaram por transformá-lo “numa lição sobre o que significa ser mulher e ser homem no Moçambique contemporâneo”, onde “cada vez mais as mulheres contestam o papel tradicional que lhes é atribuído pela sociedade, e o que os maridos esperam delas”,

“Acho que é basicamente uma reflexão e um conflito entre um Moçambique rural, com práticas tradicionais instaladas que são cada vez mais contestadas por uma nova geração, que, apesar de ter herdado essas práticas. não se revê nelas”, sintetizou.

No início da semana, em Maputo, numa apresentação da digressão portuguesa, o encenador vincara igualmente o retrato dessa “rutura com práticas herdadas nas relações de género”, que mostra uma mudança em que as mulheres questionam as tradições machistas.

A história passa-se no sul de Moçambique, perto de uma cidade, onde o protagonista, Baltazar Fortuna, tem três mulheres nas quais conta encontrar submissão, como todos os homens esperam, mas “o problema é que elas não estão de acordo e isso ele não previa”.

Confrontado com a oposição, “ele quer matá-las, mas elas não querem morrer”, descreveu então Vítor Gonçalves.

Vítor Gonçalves adiantou à Lusa que, depois de Loulé, a peça vai estar em Faro, Évora, Almada, Seixal, Setúbal, Covilhã, Viseu, Caldas da Rainha, Figueira da Foz e Coimbra, estando previsto que “mais tarde no ano, em outubro”, também seja apresentada o espetáculo no Brasil.

Em Portugal, o espetáculo vai estar em cena até 30 de julho, num total de 20 sessões, na maior digressão realizada por uma companhia moçambicana na Europa.

Realizar-se-ão também, em diversos locais, conversas entre o público e os autores do texto, Mia Couto e José Eduardo Agualusa.

 

C/Lusa

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